2006/04/24

 

Lou de Olivier

Jornal'Ecos: Qual o mestre que realmente influiu em sua vida?

Lou: Alguns mestres realmente marcaram minha carreira e merecem destaque:

Como Escritora, devo ao mestre Edmir Fraga. No cursinho, um professor metido a muito sabido criticou muito uma poesia minha e parei de escrever até que fui fazer o Bacharelado em Artes Cênicas e conheci o Professor Edmir. Nas provas ele sempre pedia um comentário sobre algum texto e valorizava mais o que improvisávamos do que o que decorávamos. Eu sempre tirava notas altas apesar de ser a mais dispersa. Uma aluna, um dia, reclamou, disse que todos estudavam, colavam, se esforçavam e tiravam nota baixa. Eu, que era uma "borboleta avoada" tirava notas altas. Ele respondeu que, ao ler uma prova minha, via, claramente, que eu não tinha a mínima idéia do que estava escrevendo, mas escrevia tão bem e coisas tão lindas que ele não tinha coragem de me dar notas baixas. E acrescentou que eu ainda seria uma grande Escritora ou Dramaturga. A partir daí, ninguém me segurou, desandei a escrever textos teatrais, contos, romances...

Na Pesquisa Científica, marcou-me muito a atitude do Professor Doutor Francisco Assumpção Jr, na época, Diretor de Saúde de Psiquiatria Infantil do Hospital das Clínicas de SP. Eu queria muito entender a anoxia que eu tinha sofrido para tentar minha cura e, acima de tudo, para ajudar os bebezinhos que sofriam anoxia perinatal. Tinha só um livro do Professor Doutor Domingos Delacio e minha enorme vontade de dominar o assunto. Meu professor de Neurologia tinha se negado a ser meu orientador, eu era ridicularizada por colegas e até por alguns professores por ter escolhido um tema difícil e, segundo eles, sem aplicação na prática. Chegaram a apelidar-me de "anoxia", isso quando não me chamavam pejorativamente de "artista", "coreógrafa", "atriz", como se essas profissões fossem humilhantes e eu estava prestes a desistir da pesquisa e da área, quando o procurei. Expus minha idéia, meu tema e ele elogiou, disse que era um tema "bem legal". Ele falava assim mesmo, "bem legal", ou seja, não era desses "intelectualóides" falando termos indecifráveis Rapidamente, pegou um papel, fez um esquema do que eu deveria procurar, onde e como procurar. Logo eu tinha um início de projeto. Meus professores da faculdade cobravam pelas orientações e não era barato, então eu perguntei ao Prof. Dr. Francisco, quanto ele me cobraria para orientar-me. Ele disse que seria um preço muito alto e eu não conseguiria pagar. Eu já me preparava para sair da sala dele quando ele me disse: "sabe quanto vai te custar minha orientação? Você terá que tirar nota dez nesta defesa"... Fiquei ensaiando um dia inteiro para contar a ele que só tirara nove e meio, mas ele achou que estava bom assim mesmo. Até hoje eu me emociono ao lembrar desses mestres, realmente, me incentivaram e me fizeram retornar ao meu caminho. Como agradecimento a eles, só posso eterniza-los em minha literatura e, sempre que posso, os cito em entrevistas.

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